sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Do Santo Agostinho pro Bosque




Quando eu era pequena,morava em Porto Alegre, no bairro Santo Agostinho, em cima da casa da minha avó paterna (Vó Maria).
Não podia ter bicho (a vó odiava), nem bola de praia daquelas gigantescas (tinha roseira no pátio da vó), não podia subir pra casa se o piso lá na vó estivesse molhado(ia sujar tudo menina!), não podia gritar(fulano não dorme, ciclano tá descançando), fazer barulho ou chamar amiguinhas pra brincar é.. não não não podia. O pai cansou das reclamações da mãe, por não poder viver lá em cima. Cansou das nossas reclamações de não poder ser criança. Agente já não queria mais ficar lá vó.
Eu tinha uns onze anos pouco mais, meu pai comprou um terreno em Cachoeirinha no bairro Jardim do Bosque e nos mudamos. Quer dizer, eles se mudaram (eu só fui pra lá depois). Odiava aquele lugar, tinha barro, muito barro, era longe de tudo, quase o rasunho do mapa com destino pro inferno. Chorava dia e noite e até adoeci. Inventei de viajar pra minha madrinha em São Domingos/RS só pra adiar minha mudança ao novo lugar, cidade, novos amigos. Senti saudade de morar lá na vó.
Nem preciso dizer que horror foi, sair de Porto, das ruas asfaltadas e do meio da família pra ir para um bairro novo, sem casas, com ruas puro barro vermelho que grudava nos calçados igual chiclé velho e mastigado. Da escola que era na esquina de casa e onde eu conhecia todos funconários e estudantes para uma, que além de ficar em um bairro completamente distante, não conhecia ninguém e ainda por cima precisava ir a pé uns 30 minutos de caminhada.

Meu pai dizia que era questão de "costume", "agora temos nossa casa" e dava muito ênfase a palavra -nossa- o que me fazia achar que podia ficar melhor.

Minha adaptação foi muito ruim e dificil, ia mal na escola, não tinha amigos, o bairro por ser novo(tinha apenas três casas construidas), longe uma da outra.
Pra pegar ônibus, minha mãe colocava sacolas de mercado nos pés, amarradas nos tornozelos, e ao chegar na parada; tirava elas e passava um paninho nos tênis pra tirar o barro que por hora podia ter sujado.
Depois de um tempo, fizemos amizade com uma senhora que morava perto da parada de ônibus, ai agente deixava um par de tênis na casa dela e quando iamos sair, atravessavamos o bairro de chinelo e com as calças erguidas no joelho o barro pela canela, e lá na casa dela, colocávamos os tênis limpos. Dona Ana, nossa salvação.
Tudo isso foi à algum tempo atrás, 12 anos pra ser exata.
Com o passar do tempo, dei razão ao meu pai, a coisa começou a melhorar, mas levou uns 4 anos pra termos nosso primeiro vizinho na quadra e uns 5 anos depois o Paulo montou o primeiro mercadinho do bairro. Hoje passa ônibus lá na frente de casa, as ruas - ainda não asfaltadas- são de pedras. Tem poucos terrenos baldios à venda ainda, e fiz muitos amigos. Uns que já se foram, outros que se jogaram no futebol, outros casaram, uns se jogaram nas drogas, poucas meninas foram morar lá, pra dizer a verdade cresci com a Daiane, a Daniela e a Sabrina, fora elas só haviam meninos e, de quebra mais novos, pois por ser um bairro novo, muitos casais sem filhos compraram terrenos lá. O que hoje faz das minhas irmãs mais novas estarem sempre rodeadas de amiguinhos. Tá tudo diferente.
Um terreno de 30mil, vale hoje, uns 60 no mínimo. O setor administrativo da cidade se mudou lá pro bairro, valorizando as casas e os terrenos do Bosque. Meu pai tinha razão "por pior que pareça, vai melhorar josi, acredite."
Parece engraçado de dizer, mas o "Jardim do Bosque" não tinha uma árvore sequer plantada, nem agua, ou postes de luz, nada à 12 anos atrás. E é um bairro hoje, muito valorizado por estar recebendo a Câmera de vereadores, o Fórum, Ministério do Trabalho, Shoping, Big, Faculdade Cesuca tudo ali o ladinho. De esquecida para lembrada. Em 12 anos mudou mesmo pai, confesso.
Hoje na real, moro sozinha, muita coisa bacana aconteceu, outras nem tanto, mas ficou as lembranças que aos poucos vou lhes descrever, já não moro com meus pais naquele bairro, sou apenas uma visita, mas confesso que ando pensando seriamente em correr de volta pra lá.


Engraçado pai... as coisas mudam mesmo. Saudade!

6 comentários:

Unknown disse...

Na casa da minha vo tbm num podia ter nd...e pra piorar num tinha nd por perto pra gente brinca...¬¬

Anônimo disse...

Adoro qdo as coisas mudam, mas pra melhor. O pior sempre é chato e babaca rs, enfim adorei seu blog, virei mais vezes. Beijo.

http://tiomah.blogspot.com/

Na sombra da dúvida disse...

Oi, fiquei curioso. Mora com quem agora? Você casou?

Jorge Oyafuso disse...

Meu bairro mudou bastante também; antes era uma avenida que não tinha nada.. hoje, dominada pelo comércio, mercados, camelôs.

Momento nostálgico, hein? :P

Ah, só uma observação:


"e ainda por cima precisava ir a pé uns 30 minutos de caminhada."

Tome sempre cuidado com a redundância; se precisa ir a pé, é claro que é uma caminhada. rsrs

Thaís A. disse...

Ah, muito bom o post. Pois é, com o tempo, tudo muda!
Não entendi uma coisa, você ainda mora lá?

Beij]ão :*

Anônimo disse...

Tô esperando a foto da tatoo...
Bjo

Clarissa Corralles